Um dos elementos mais naturais do processo de crescimento do ser humano é o conflito, além do que, quando
sabemos lidar com o mesmo, ele se torna extremamente útil e fortalecedor.
A palavra conflito tem a mesma raiz etimológica de aflito, e deriva do verbo “flito” que significa cair.
A pessoa aflita é aquela que está caindo e o “flito” é quando ela cai. Nesse caso, conflito seria entendido
como estar junto na queda, ou então, “cair junto”. Quando uma criança tropeça e começa a ir de encontro ao chão, sua sabedoria instintiva, e ainda não
influenciada pelos medos, inseguranças e traumas, a faz relaxar para mentalmente acompanhar o
movimento descendente. No caso da criança, ela cai junto com o tombo e isso implica em uma pré-disposição e aceitação do
momento, adaptando-se de maneira inconsciente a ele através de uma atitude de relaxamento. A criança só irá chorar se ela se assustar nesse processo, mesmo assim, esse choro é como que
um “botar para fora” sua vitalidade, para equilibrar-se, uma espécie de grito para equiparar e assustar
aquilo que a está assustando. Ou então, se ela bate alguma parte de seu corpo e isso lhe produz dor.
Mesmo nesse caso, se alguém a distrai da dor, ela irá parar de chorar se a pancada não tiver sido
realmente intensa. Ela irá avaliar a situação em fração de segundos e, percebendo que nada de ruim
lhe acometeu, voltará a correr e a brincar naturalmente. No caso dos adultos, quando se deparam com uma queda a primeira reação é negá-la e não querer cair.
Mental e emocionalmente ele nega a queda, produzindo uma ruptura do processo natural, qual seja,
“cair junto” para poder “levantar junto”. Quando nosso corpo está caindo é preciso colocar todo nosso ser focado, atento, relaxado e flexível
para poder aproveitar essa energia que desce e direcioná-la para cima, produzindo uma sinergia de
movimento. Isso pode ser observado em várias modalidades corporais em que os atletas fazem
coreografias incríveis, dando continuidade no processo ao qual estão inseridos. Em nosso dia a dia é preciso colocar a mesma pré-disposição. Temos que, primeiramente, aceitar a
queda e nos prepararmos receptivamente, abertos para o aprendizado com que a vida nos está brindando.
Neste caso, é diferente de procurarmos confusão ou criarmos caso com os outros. Quando o processo é
natural ele vem acompanhado de elementos ricos de crescimento e fortalecimento. Dessa forma, quando nos pré-dispomos a “cair juntos” com atitudes pró-ativas e construtivas,
podemos produzir sinergia de movimento e direcioná-la da maneira como sentirmos e entendermos
que seja melhor, a partir de uma avaliação dos elementos que nos levaram para baixo, encontrando a
solução mais adequada e harmônica para aquele momento.
